Presidente timorense esteve em Ovar e louvou a solidariedade permanente de Portugal e reafirmou a aposta na língua portuguesa
O presidente da República de Timor-Leste e Prémio Nobel da Paz em 1996 visitou Ovar na tarde de ontem. José Ramos Horta foi prestigiar a exposição de pintura ‘ADN – Abertura da Descoberta da Nau’, da autoria de Maria Dulce, sua familiar, que decorre na Junta de Freguesia ovarense, mas acabou por realizar, também, uma ‘visita de Estado’ ao município.
Na sessão solene realizada nos Paços do Concelho, Ramos Horta sublinhou que, na actualidade, Timor-Leste está “em processo de normalização e de estabilização”. O Chefe de Estado timorense considerou que o Governo liderado por Xanana Gusmão – líder histórico da nação e seu antecessor na Presidência – tem todas as condições para cumprir o seu programa, uma vez que dispõe de maioria no Parlamento.
Ramos Horta também abordou o processo de constituição do Estado democrático de Timor-Leste, salientando que tem sido um processo difícil. Fez até comparações com o processo de normalização da democracia portuguesa no pós-25 de Abril de 1974. E deixou críticas às Nações Unidas, por terem ‘forçado’ os timorenses a assumirem a soberania, após apenas dois anos de mandato internacional, no período subsequente a 1999. “Não é possível construir um estado democrático em dois anos”, constatou.
Recordou o tempo em que orçamento do jovem país era de apenas 70 milhões de dólares. E de um percurso inicial de soberania marcado pela inexistência de uma administração pública e de uma economia estruturada. Hoje em dia, porém, o presidente assume-se optimista em relação ao futuro do seu país. Falou dos recursos já disponíveis, decorrentes da exploração, com os australianos, das reservas de gás e de petróleo - “dádivas de Deus a Timor-Leste”, como lhes chamou.
Actualmente, o orçamento do Estado timorense anda pelos 340 milhões de dólares e outro tanto chega-lhes da ‘ajuda internacional’. José Ramos Horta lamentou, no entanto, que a “capacidade de execução” do Governo timorense ainda seja “muito baixa”. Reiterou, contudo, que o Executivo liderado por Xanana tem mais meios para “resolver os problemas dos pobres”.
E se a ONU foi criticada, para Portugal ficaram só elogios. Recordou que, a partir de 1991, a “causa de Timor” tornou-se “prioritária” para a política externa portuguesa. E, se o nosso país “foi sempre solidário” para com os timorenses, “a partir de 1999, foi exemplar”, o que se mantém “até hoje”.
Manuel Oliveira, o presidente da Câmara de Ovar, e Manuel Malícia, o líder da Assembleia Municipal, destacaram as qualidades do visitante como “resistente” e como “combatente pela liberdade”. “É um homem que, pelo seu exemplo, é referencial para a humanidade”, sublinhou Manuel Oliveira. “Não sou herói; até tenho pavor de armas”, replicou Horta.
Alberto Oliveira e Silva
Diário de Aveiro - Jornal Regional (27-07-2008)
O presidente da República de Timor-Leste e Prémio Nobel da Paz em 1996 visitou Ovar na tarde de ontem. José Ramos Horta foi prestigiar a exposição de pintura ‘ADN – Abertura da Descoberta da Nau’, da autoria de Maria Dulce, sua familiar, que decorre na Junta de Freguesia ovarense, mas acabou por realizar, também, uma ‘visita de Estado’ ao município.
Na sessão solene realizada nos Paços do Concelho, Ramos Horta sublinhou que, na actualidade, Timor-Leste está “em processo de normalização e de estabilização”. O Chefe de Estado timorense considerou que o Governo liderado por Xanana Gusmão – líder histórico da nação e seu antecessor na Presidência – tem todas as condições para cumprir o seu programa, uma vez que dispõe de maioria no Parlamento.
Ramos Horta também abordou o processo de constituição do Estado democrático de Timor-Leste, salientando que tem sido um processo difícil. Fez até comparações com o processo de normalização da democracia portuguesa no pós-25 de Abril de 1974. E deixou críticas às Nações Unidas, por terem ‘forçado’ os timorenses a assumirem a soberania, após apenas dois anos de mandato internacional, no período subsequente a 1999. “Não é possível construir um estado democrático em dois anos”, constatou.
Recordou o tempo em que orçamento do jovem país era de apenas 70 milhões de dólares. E de um percurso inicial de soberania marcado pela inexistência de uma administração pública e de uma economia estruturada. Hoje em dia, porém, o presidente assume-se optimista em relação ao futuro do seu país. Falou dos recursos já disponíveis, decorrentes da exploração, com os australianos, das reservas de gás e de petróleo - “dádivas de Deus a Timor-Leste”, como lhes chamou.
Actualmente, o orçamento do Estado timorense anda pelos 340 milhões de dólares e outro tanto chega-lhes da ‘ajuda internacional’. José Ramos Horta lamentou, no entanto, que a “capacidade de execução” do Governo timorense ainda seja “muito baixa”. Reiterou, contudo, que o Executivo liderado por Xanana tem mais meios para “resolver os problemas dos pobres”.
E se a ONU foi criticada, para Portugal ficaram só elogios. Recordou que, a partir de 1991, a “causa de Timor” tornou-se “prioritária” para a política externa portuguesa. E, se o nosso país “foi sempre solidário” para com os timorenses, “a partir de 1999, foi exemplar”, o que se mantém “até hoje”.
Manuel Oliveira, o presidente da Câmara de Ovar, e Manuel Malícia, o líder da Assembleia Municipal, destacaram as qualidades do visitante como “resistente” e como “combatente pela liberdade”. “É um homem que, pelo seu exemplo, é referencial para a humanidade”, sublinhou Manuel Oliveira. “Não sou herói; até tenho pavor de armas”, replicou Horta.
Alberto Oliveira e Silva
Diário de Aveiro - Jornal Regional (27-07-2008)
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