O indulto presidencial de 20 de Maio a condenados por crimes contra a humanidade nunca deveria ter havido lugar. Nem o indulto a Rogério Lobato, por distribuição de armas e formação de esquadrão de morte. Este acto é uma afronta às vítimas e à democracia. Nunca entendi, por mais que eu desse volta aos miolos, o perdão ao assassino da Madre Margarida, do diácono Jacinto (de Gariauai) e outros, mortos a tiro e atirados para o leito de uma ribeira como se de animais se se tratasse.
Qualquer acto de perdão de penas concedido através da prerrogativa presidencial de concessão de indulto deve partir de uma proposta do Governo. Contudo, sabe-se que o Primeiro-ministro Xanana não era de opinião em soltar essas feras antes de cumprirem as penas setenciadas por tribunal: apenas recomendou redução das respectivas penas. A Rogério Lobato, o Primeiro-ministro tinha recomendado redução de um ano do total da pena sentenciada. Não o seu perdão total. Não tinha recomendado a soltura pura e simples. Muito menos a carniceiro de Lospalos.
Na minha opinião, o Presidente Horta, ao fazer orelhas moucas às recomendações do Governo, quis soltar-se da tutela de Xanana: foi um grito de Ipiranga! Mas, essa afirmação de autonomia pode prejudicar muito a frágil democracia timorense. Transmite aos timorenses e ao mundo uma imagem de um país onde os crimes praticados por motivação política são impunes. A presença de Roque Rodrigues no gabinete do Presidente Horta, como seu assessor, poderá explicar em parte o perdão total de pena a Rogério Lobato, seu camarada da Fretilin.
Contudo, Xanana, mesmo sem se mexer, faz sombra a muita boa gente, pelo seu trabalho em prol do bem-estar dos seus irmãos timorenses, ao conduzir sabiamente, no passado, o seu povo à libertar-se do invasor e, no presente, a libertar-se de uma oligarquia nascente alkatiriana, da corrupção, pobreza e ignorância.
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