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Novo romance de Vasco Graça Moura

Vasco Graça Moura

História de uma obsessão

por Rita Silva Freire

Um bibliófilo apaixona-se por uma misteriosa mulher a quem compra uns livros antigos. Apesar de estar com ela apenas duas vezes, é esta paixão obsessiva que vai reger a sua vida durante largo tempo. E que vai ditar a narrativa de Alfreda ou a Quimera, o novo romance de Vasco Graça Moura. Nascido na Foz do Douro em 1942, Vasco Graça Moura licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, tendo advogado no Porto entre 1966 e 1983. Poeta, ficcionista, ensaísta, cronista e tradutor, é também deputado ao Parlamento Europeu desde 1999. Recebeu, entre outros prémios, o Pessoa (1995), os de Poesia do Pen Club (1997) e da APE (1997) o de Romance e Novela APE/IPLB (2004); e vários como tradutor de obras como, entre muitas outras, a Divina Comédia - o último dos quais o Prémio de Tradução 2007 do Ministério da Cultura Italiano, de 2007. É autor de, entre outras obras de ficção, Meu Amor, Era de Noite e Por Detrás da Magnólia.

Jornal de Letras: Como surgiu Alfreda e a Quimera?

Vasco Graça Moura: A partir de um conto que escrevi a convite do Expresso e que saiu no Verão do ano passado, chamado Ex-Libris – que é aliás o título que deia um dos capítulos do romance, no qual se desenhava já a primeira parte da história contada ao longo do livro. Achei que tinha potencialidade para o prolongar, e foi isso que fiz. É a história de uma obsessão, nascida a partir de dois meros encontros do narrador com uma personagem.

O livro centra-se numa determinada elite do Porto. Foi-lhe importante o conhecimento do meio para construir as personagens?

Essa atmosfera tem que ver um pouco com a minha própria experiências, mas não houve modelos para as personagens que, tanto quanto eu delas tenha consciência , são inventadas. Há uma personagem ao longo de todo o livro, a cidade do Porto, misto de reminiscências e de dados objectivos, e essa é uma parte que me interessou também como tentativa de resolver um problema técnico: fazer, de algum modo, uma cidade ter o seu peso, quer como paisagem, quer quase como personagem humanizada.


Há uma forte relação de amizade entre o protagonista e Pips, um inglês homossexual. O que lhe interessou explorar?

A dimensão humana de uma personagem que não tem modelo nas pessoas que conheço. Interessou-me criar uma figura com uma dimensão suficientemente simpática, nas suas idiossincrasias, nos seus tiques e nas suas preocupações, que me pareceu ter um conteúdo significativo para a história. Mas não me preocupei em explorar a questão da homossexualidade.


O narrador, João de Melo Saraiva, tem uma forte relação com os livros…

Posso ter-me inspirado na minha própria relação com os livros, embora eu não seja bibliófilo nem especialista como a minha personagem. E ao contrário de João de Melo Saraiva, eu acredito no futuro do livro. Por outro lado, a personagem é indiferente a uma série de problemáticas – nomeadamente sociais, o que não é o meu caso. Não é, nem de perto nem de longe, uma personagem autobiográfica.

Projectos futuros de escrita?

Tenho para sair, até ao princípio do Verão, uma pequena novela, na Alêtheia, intitulada O Pequeno-Almoço do Sargento Beauchamp, e a tradução de O Cid, de Corneille. Tenho também um livro de contos para publicar em Outubro.

Jornal de Letras (JL), nº 981 (de 7 a 20 de Maio de 2008)

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