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11/2: a investigação de Felícia Cabrita

Atentado posto em causa

Investigação do Sol aos incidentes de 11 de Fevereiro põe hipótese de dupla traição

O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que foi alvo de um atentado em Fevereiro, no palácio presidencial em Díli, terá sido atraiçoado por um militar do seu corpo de segurança.
Este militar, de nome Albino Assis, será a peça-chave quer do atentado contra Ramos-Horta, quer da morte à queima-roupa do major rebelde Alfredo Reinado.
Albino Assis integrava as F-FDTL (Falintil-Forças de Segurança de Timor-Leste), a pequena força de segurança pessoal do Presidente Ramos-Horta. Ao mesmo tempo, porém, mantinha contactos frequentes com o grupo rebelde do major Reinado – tudo indicando que este tinha homens infiltrados na segurança do palácio.
Aliás, o nome de Albino Assis constava de uma lista que Reinado trazia no bolso quando foi alvejado. Mas não só: o major tinha também consigo um croquis do palácio, feito por alguém que conhecia bem por dentro as instalações da casa oficial de Ramos-Horta.
Reinado terá morrido entre as 6h15 e as 6h20, momento em que deixou de fazer contactos com os elementos do grupo do major Salcinha, que se encontrava em Dare – zona próxima ao local onde, uma hora depois, o primeiro-ministro Xanana Gusmão foi alvo de forte tiroteio.
Foi também Assis quem, às 7h27 do dia do atentado, comunicou ao grupo de Salsinha o que se passara no palácio presidencial: os atenatdos que vitimaram Alfredo Reinado e que colocaram Horta às portas da morte.
O alerta da entrada do Reinado no palácio foi dado por um jovem que vive no campo de deslocados ali existente - e contíguo à caserna onde dormia Assis, com um outro militar da segurança de Horta, Francisco Marçal. Este acabaria por ser o autor da rajada de metralhadora que atingiria Reinado.
Só que Marçal, que disse ter feito um único disparo de metralhadora, não contou a verdadeira versão.

Morto à queima roupa

Alfredo Reinado não terá morrido com os tiros desta rajada - que lhe fez três perfurações num olho e deixou um estilhaço no ombro. Segundo a autópsia já realizada, a causa da morte foi uma bala isolada que o atingiu no pescoço, disparada à queima roupa e o trespassou de um lado ao outro.
Existem fundadas dúvidas sobre a veracidade das teses até agora defendidas para aquilo que teria acontecido: que Reinado e os seus homens foram a Díli com o objectivo de matar Ramos-Horta e Xanana.
De facto, está em cima da mesa a possibilidade de, além de Horta, também Reinado ter sido vítima de traição (atraído a um falso encontro com o Presidente9. O certo é que Horta e Reinado mantinham negociaçõesbpara que o grupo rebelde se entregasse, tendo o último encontro entre ambos ocorrido em Maubisse, a 80 quilómetros de Díli, apenas quatro semanas antes do atentado.
Outro elemento importante poderá ser uma mensagem existente no telemóvel de Reinado enviada por uma mulher que esteve com ele nas montanhas, na noite da véspera de tudo acontecer.
Nessa enigmática mensagem, enviada às 23 horas de 10 de Fevereiro, a mulher dizia: «Tenha cuidado mor [amor]. Não é preciso ires este seminário [expressão usada pelos timorenses para se referirem a 'encontro'] se não te sentires bem. Não esqueças de seguir o ritual daquilo que acreditamos. Amo-te sempre».

Horta não conhece

Ao contrário do que tem sido dito, Ramos-Horta não reconheceu o homem que o alvejou. O Presidente timorense viu-o - «Sei que é alto, magro e que tinha um lenço verde atado na cabeça», disse ao SOL - mas não o conhecia.
Segundo Horta, o agressor vestia uma farda semelhante à que os homens de Reinado envergavam no encontro de Maubisse.
O Presidente de Timor-Lest confidenciou ainda ao SOL que não esperava de todo o que sucedeu, tendo em conta a existência de negociações. «Não estava nada à espera disto», disse Ramos-Horta.
O SOL publicará em próxima edição toda a história dos acontecimentos em Díli, com documentação sobre o que verdadeiramente se passou, assim como uma entrevista concedida por este à imprensa internacional depois do atentado.

Felícia Cabrita, em Díli
felicia.cabrita@sol.pt
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A minha dissecação deste artigo
  1. "palácio presidencial": ERRADO - O atentado ocorreu na residência particular do Presidente timorense, situada em Metiaut, na encosta (a uns dez metros do nível do mar) da colina sobranceira a Areia Branca; o palácio presidencial situa-se em Lahane, é o antigo palácio dos governadores coloniais portugueses, recuperado pela Cãmara Municipal de Lisboa.
  2. "o nome de Assis constava de uma lista que Reinado trazia no bolso quando foi alvejado" : Era bom também procurar investigar se nessa lista constava também os nomes de outros soldados das F-FDTL da pequena guarnição de segurança do Presidente.
  3. "Foi também Assis quem, às 7h27 do dia do atentado, comunicou ao grupo de Salsinha o que se passara no palácio presidencial": Convém procurar obter junto da Timor Telecom a gravação da chamada para se estudar o seu conteúdo, o tom (de ironia, sarcasmo ou de aflição) e o modo (amigável ou hostil) da conversa.
  4. "O alerta da entrada de Reinado no palácio foi dado por um jovem que vive no campo de deslocados ali existente - e contíguo à caserna onde dormia Assis, com outro militar de segurança de Horta, Francisco Marça.": i) Não existe nenhum campo de deslocados contíguo à residência do Presidente timorense; ii) É pouco convincente Assis fazer jogo duplo (considerado pela investigação do SOL elemento do grupo Reinado infiltrado na guarda presidencial, logo conspirador), pela simples razão de estar a dormir enquanto decorria o assalto às instalações da residência do Presidente! Afinal, Assis estava ou não a par do assalto? Assis é ou não elemento infiltrado de Reinado? Não era suposto aguardar a chegada do Reinado e seus homens? Não era suposto também estar a vigiar os passos do Presidente? E por que não telefonou a Reinado para o avisar da corrida de manutenção do Presidente fora da sua residência, ausente portanto nas instalações da sua residência particular?
  5. "Alfredo Reinado não terá morrido com os tiros desta rajada - que lhe fez três perfurações num olho e deixou um estilhço no ombro": i) Elementar minha cara investigadora: três tiros num olho é morte certa. ii) O que originou o "estilhaço"? Ricochete de uma bala numa superfície dura, ou "estilhaço" de uma granada?!
  6. "Segundo a autópsia já realizada, a causa da morte foi uma bala isolada que atingiu no pescoço, disparada à queima roupa e o trespassou de um lado ao outro": i)Segundo informações amplamente divulgadas na altura do funeral de Alfredo Reinado, não se fez autópsia ao corpo do Reinado. ii) Relativamente à bala que perfurou o pescoço e que foi "a causa da morte", a questão é se a bala fora disparada antes dos "tiros desta rajada" ou depois? Se Reinado foi atingido "à queima roupa", pressupõe que o tiro fora disparado a apenas uns centímetros de distância entre o atirador e Reinado, e tendo morrido da bala deste tiro, então "a rajada" dos "três tiros" "que lhe fez três perfurações num olho" foi depois! E se foi depois, então Reinado é um ser sobrehumano, pois mesmo depois de levar com a bala no pescoço que lhe provocou a morte mantinha-se de pé à espera dos três tiros! Só assim se explica que tenha sido também atingido com os três tiros no olho, logo a rajada foi de frente. Sabe-se que Reinado, mortalmente atingido, caiu de bruços, logo a rajada dos três tiros no olho de Reinado não podia ser dada já depois de prostrado no chão.
  7. "De facto, está em cima da mesa a possibilidade de, além de Horta, também Reinado ter sido vítima de traição (atraído a um falso encontro com o Presidente.): Presume-se que Reinado tinha canais de comunicação directos com o Presidente timorense, nomeadamente telemóvel. É pouco crível Reinado acreditar-se num encontro com o Presidente marcado por terceiros, sem antes certificar-se junto do próprio Presidente da autenticidade da marcação do encontro. E a ser verdade que o encontro fora marcado por terceiros, então, nesse caso, marcado por quem?!
  8. "o último encontro entre ambos ocorrido em Maubisse, a 80 quilómetros de Díli, apenas quatro semanas antes do atentado": ERRADO - O último encontro foi em Gleno, Ermera.
  9. Sabe-se que Reinado falava português quando criança, em casa, porque pertence a uma família que tinha como língua materna o português, para além do tétum. Sabe-se também que Reinado praticamente já não se expressa em português. O mais natural é as mensagens com ele trocadas sejam escritas em tétum ou inglês (porque viveu os últimos dez anos na Austrália). Agora, a ser verdade a existência de "uma mensagem [...] no telemóvel de Reinado enviada por uma mulher que esteve com ele nas montanhas, na noite da véspera de tudo acontecer", "enviada às 23 horas de 10 de Fevereiro", escrita em português com expressões próprias de alguém falante nativo ou quase nativo desta língua " mor [amor]" e o uso adequado do tempo e modo verbais, é de questionar a sua veracidade. E a ser verdade, então, quem será a autora desta "enigmática mensagem"?!
  10. FIM da minha dissecação. OS MEUS LEITORES QUE TIREM AS SUAS CONCLUSÕES.

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