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As estatísticas e educação

ESTATÍSTICAS

O político inglês Benjamin Disraeli gostava de dizer que «há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras horríveis e estatísticas». Quando se diz, por exemplo, que os alunos obtiveram melhores resultados, fica-se sem saber se o mesmo aconteceu porque os jovens aprenderam mais ou porque os exames foram mais fáceis. A falácia pode ser grande, mas pelo simples facto de se mostrarem números muita gente acredita nela, ou está mais propensa a nela acreditar. O engodo resulta do uso dos números, claro, e não deles próprios. Pelo contrário, é importante aprender um pouco de estatística para poder ser crítico na análise. Inspirado nesta ideia, o escritor norte-americano Darrell Huff escreveu em 1954 aquele que se viria a tornar o livro sobre estatística mais vendido de sempre. Chama-se «How to Lie with Statistics» e está repleto de exemplos de «como se pode mentir com estatísiticas». Foi sucessivamente reimpresso e continua à venda. Sem querer ser um herdeiro dessa obra, um livro mais recente, de Jean de Kervasdoué, intitulado «Les Prêcheurs de l'Apocalypse» (Plon, 2007), mostra como alguns modernos «pregadores do apocalipse» usam estatísticas enganosas em temas ecológicos e de saúde. Um dos exemplos mais interessantes (pág. 89), embora macabro, é o do número de mortes por cancro em França, que subiu de 15,5% entre 1980 e 2000. Parece um número brutal. No entanto, entrando em conta com o crescimento da população (10,3%) e o seu envelhecimento (18,8%), verifica-se que o risco de morte por cancro se reduziu em 13,6%. Tal como o fracasso se pode esconder com estatísticas, também o progresso pode ser negado com estatísticas enganosas.

Revista ÚNICA, Expresso nº 1845, 8 Março 2008
Nuno Crato (unica@expresso.p)

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