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Tsvangirai detido novamente e comícios proibidos no Zimbabué

O partido de Morgan Tsvangirai acusa o regime no poder de genocídio do seu povo

O candidato da Oposição à presidência do Zimbabué foi hoje mais uma vez detido e solto duas horas depois. Os comícios estão suspensos por razões de segurança, garante a polícia zimbabueana. A Oposição considera que se trata de uma manobra para prejudicar a campanha.

Morgan Tsvangirai encontrava-se em campanha próximo de Bulawayo, a segunda maior cidade do país, quando foi mandado seguir para a esquadra de polícia mais próxima, a 50 quilómetros desta localidade, onde foi interrogado durante 25 minutos. Duas horas depois abandonou as instalações sob escolta policial.

O Movimento para a Mudança Democrática (MDC), que apoia Morgan Tsvangirai, classificou a detenção de “acto vergonhoso e desesperado”. Em comunicado, o MDC sustenta que “o regime deve deixar fazer aquilo para que o povo mandatou o presidente e o MDC, ajudar a restaurar a dignidade do povo do Zimbabué”. O MDC sempre reclamou vitória nas eleições presidenciais de 29 de Março.

A decisão de interromper a realização de comícios deve-se, segundo a polícia, por não ser possível garantir a segurança dos líderes políticos.

O porta-voz de Tsvangirai classificou esta decisão de “absurda”, interpretando-a como uma “clara indicação que o regime vai fazer tudo o que é necessário para continuar no poder”. George Sibotshiwe acrescentou que os apoiantes de Tsvangirai estão “desanimados porque não foi permitido ao nosso presidente aceder ao povo do Zimbabué numa fase crucial desta campanha”.

Tsvangirai comentava, ontem, que esta situação implica um maior recurso ao “improviso para aceder às pessoas. E num ambiente muito hostil”. Apesar disto, o candidato presidencial da Oposição manifestou-se confiante na vitória, no escrutínio de 27 de Junho.

A polícia considera que a responsabilidade pela detenção é da comitiva liderada pelo próprio Tsvangirai, que se recusou a parar num bloqueio de estrada. Segundo o porta-voz da polícia, é um acto frequente revistar as viaturas para garantir que não são transportadas armas. “Tsvangirai e a sua comitiva não estão imunes às buscas”, disse. “Podem ser revistados em qualquer bloqueio que passarem”, acrescentou.

Ajuda alimentar interrompida no Zimbabué

A proibição de realização de comícios foi o segundo grande revés na campanha do MDC no Zimbabué. O outro foi a ordem de interrupção, dada quinta-feira, às movimentações no terreno das organizações não governamentais.

As agências das Nações Unidas já manifestaram a sua extrema preocupação com os cidadãos do Zimbabué, cuja sobrevivência depende deste auxílio alimentar. “Se não temos as ONG, não poderemos prosseguir com as operações humanitárias que são essenciais para uma grande parte da população e são as pessoas que vão sofrer”, declarou um elemento da coordenação para os Assuntos Humanitários da ONU.

Também o embaixador dos Estados Unidos no Zimbabué já exprimiu o seu desacordo com esta decisão. Para James McGee a ajuda alimentar está a ser usada pelo regime de Mugabe como arma para conseguir votos. “Estamos a lidar com um regime desesperado que fará tudo para permanecer no poder”, afirmou.

“Se tem um cartão do MDC pode receber alimentos, mas antes deverá entregar o bilhete de identidade às autoridade, o que significa que ficarão retidos até depois da data das eleições”. Sem o bilhete de identidade “não poderá votar”, explicou.

“A única forma de ter acesso a comida é abdicar do direito de votar”, disse McGee, “e isso é absolutamente ilegal”, acrescentou.

Também a União Europeia reagiu com preocupação a esta notícia. “Estou profundamente preocupado só de pensar que centenas de milhar de pessoas, que dependem da ajuda da Comissão Europeia e de outros para sobreviver, enfrentam agora e cada vez mais um futuro incerto”, afirmou o comissário europeu responsável pela ajuda alimentar.

Detenções sucessivas nos últimos dias

Esta foi a segunda detenção de Morgan Tsvangirai na mesma semana. O candidato presidencial vencedor das eleições de Março, mas sem a maioria necessária para evitar uma segunda volta, tinha sido detido na quarta-feira durante oito horas.

No dia seguinte, cinco diplomatas norte-americanos e dois britânicos foram detidos após terem visitado alegadas vítimas de violência política. A polícia do Zimbabué atribui responsabilidades aos diplomatas pelo incidente, uma vez que recusaram identificar-se quando foram abordados.

Os Estados Unidos culpam o regime de Mugabe por estas detenções, que consideram ser uma forma de intimidação dos apoiantes de Tsvangirai. Por isso, apelam aos líderes africanos que enviem a maior quantidade possível de observadores para o próximo escrutínio.

Segundo a Oposição, morreram 65 pessoas desde que teve início o processo eleitoral. Contudo, o regime de Mugabe responsabiliza o MDC pela violência.

Tsvangirai deixou o país desde a primeira volta, no final de Março, e só voltou para a segunda volta da campanha presidencial. O seu partido sustenta que ele é alvo de uma conspiração para assassinato.

A imprensa do Zimbabué confere grande visibilidade às actividades de Mugabe, na liderança há 28 anos, em detrimento das de Tsvangirai.

Raquel Ramalho Lopes, RTP
2008-06-06

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