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Campanha presidencial de Robert Mugabe entregue às forças militares


"Foi-nos dito para votarmos na Zanu-PF e disseram-nos que o voto já não é secreto, somos obrigados a votar em frente do nosso comandante", afirmou um oficial da polícia ao repórter da BBC.

No dia em que o líder da Oposição zimbabueana é detido pela terceira vez, a BBC online denuncia um alegado estratagema orquestrado pelo Regime de Mugabe que estará a ser posto em prática pelo Exército para lançar o terror entre os apoiantes de Morgan Tsvangirai e bloquear qualquer tentativa de campanha do Movimento para a Mudança Democrática (MDC).

A BBC afirma ter em seu poder "documentos que indicam que os militares estão activamente envolvidos na segunda volta da campanha de Robert Mugabe" com vista à reeleição na segunda volta das Presidenciais de 27 de Junho.

O artigo refere que o testemunho de cidadãos por todo o Zimbabué, bem como documentação oficial, dão corpo à ideia de que "a violência e a intimidação" estão em campo para garantir a reeleição do Presidente Robert Mugabe.

A BBC sustenta que os documentos que chegaram à sua posse sugerem que essa operação marcada por manobras intimadatórias no seio da comunidade de apoiantes de Morgan Tsvangirai está a ser conduzida pelo Comando Operacional Conjunto (Joint Operations Command - JOC).

O JOC é constituído pelos chefes máximos do Exército e das autoridades responsáveis pela segurança.

Um outro documento oficial do Regime aponta o racionamento alimentar como parte das tácticas do partido Zanu-PF de Mugabe para esta fase final das Presidenciais: "Os bens essenciais devem ser colocados à venda a partir de lojas pró-Zanu-PF", pode ler-se nos documentos, assevera a BBC, sublinhando ainda as indicações para que seja dado um papel principal nestas operações aos temidos veteranos de guerra do Zimbabué.

Estes veteranos, conhecidos pela sua ferocidade, têm sido responsáveis pelas campanhas violentas levadas a cabo no país contra opositores de Mugabe, assim como pelas operações comuns até há uns anos atrás de expropriação de quintas aos cidadãos brancos.

A documentação sugere ainda que estão em marcha operações secretas contra partidários do MDC. Estas operações têm em vista "expurgar" as comunidades Zanu-PF de qualquer elemento pró-Tsvangirai, interditando igualmente as zonas rurais aos activistas da Oposição. O exercício da violência é aconselhado como forma de assegurar resultados positivos às operações em curso.

A Oposição apontou uma estimativa segundo a qual nos últimos seis meses 66 militantes do MDC foram assassinados, 200 estão desaparecidos e 3.000 hospitalizados na sequência de agressões.

O vice-ministro da Informação, Bright Matonga, negou qualquer responsabilidade governamental nessas acções violentas e escusou-se a comentar os dados na posse da BBC, que classificou de "documentos ilegais".

A BBC conseguiu no entanto o testemunho de um oficial da polícia de Harare que confirma ordens de Mugabe aos membros das forças de segurança para que apoiem a Zanu-PF e fechem os olhos à violência dirigida contra os membros do MDC.

Lamentando que a polícia no Zimbabué não seja já independente, este oficial que falou ao abrigo do anonimato por questões de segurança deu ao reporter da BBC o seguinte testemunho: "Foi-nos dito para votarmos na Zanu-PF e disseram-nos que o voto já não é secreto, somos obrigados a votar em frente do nosso comandante".

Morgan Tsvangirai foi detido pela terceira vez em oito dias

No que se está já a tornar numa táctica previsível do Regime Mugabe, o MDC voltou hoje a ser alvo de detenções dirigidas à cúpula do partido.

Pela terceira vez em pouco mais de uma semana, Morgan Tsvangirai foi novamente detido quando realizava uma acção de campanha 200 quilómetros a Oeste da capital Harare, tendo sido mantido durante duas horas numa esquadra da polícia de Kwekwe com 20 dos seus colaboradores mais próximos.

No final, como já antes sucedera nas detenções de quarta e sexta-feira da semana passada, não foi apresentada qualquer acusação formal.

Também o secretário-geral do partido, Tendai Biti, que regressava ao país proveniente da África do Sul, onde se auto-exilou durante algumas semanas após o escrutínio de 29 de Março, foi interceptado no aeroporto por polícias à civil.

Após a detenção, as autoridades fizeram saber que cai sobre Biti a acusação de traição. O secretário-geral do MDC está a ser visado por, durante a primeira volta das eleições, ter divulgado números que dariam a vitória ao seu movimento antes de a comissão eleitoral se pronunciar oficialmente sobre os resultados do escrutínio.

Tsvangirai detido duas vezes em menos de uma semana

Na passada semana, Morgan Tsvangirai foi detido pelas autoridades policiais por duas vezes no espaço de três dias.

Logo na quarta-feira, apenas 12 dias após o regresso ao país, o líder da Oposição esteve detido durante oito horas próximo da segunda cidade do país, juntamente com 14 dos seus colaboradores.

O porta-voz de Tsvangirai, George Sibotshiwe, explicou que o líder do MDC estava a realizar uma acção de campanha quando a comitiva foi travada por uma barreira da polícia, que levou os detidos para Lupane, a Norte de Bulawayo.

Dois dias depois, na sexta-feira, Tsvangirai voltava a ser detido e libertado duas horas depois, numa clara manobra de intimidação por parte do regime de Mugabe.

Morgan Tsvangirai encontrava-se em campanha ainda próximo de Bulawayo quando foi mandado seguir para a esquadra de polícia mais próxima. Ali terá sido interrogado durante 25 minutos, abandonando as instalações duas horas depois.

A polícia anunciou então que por razões de segurança os comícios da Oposição estavam suspensos, o que o porta-voz de Tsvangirai classificou de "clara indicação de que o regime vai fazer tudo o que é necessário para continuar no poder".

Regresso sob o signo da ameaça

Morgan Tsvangirai deixou o Zimbabué depois da primeira volta das eleições presidenciais, que decorreram a 29 de Março e lhe deram uma maioria de votos, para um périplo por países vizinhos com o objectivo de montar um cerco diplomático a Robert Mugabe.

Tsvangirai decidiu adiar o regresso ao país até ao passado mês de Maio, após informações dos seus colaboradores do MDC que asseguravam estar em marcha um golpe militar para o assassinar.

Trata-se de uma realidade que não constitui novidade para o líder do principal partido da Oposição, que já terá escapado a pelo menos três tentativas de assassinato.

Uma delas em 1997, quando indivíduos não identificados tentaram atirá-lo de uma janela de um 10.º andar.

No ano passado, acabou hospitalizado depois de barbaramente agredido pela polícia durante uma acção religiosa com os seus apoiantes.

Paulo Alexandre Amaral, RTP
2008-06-12
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O meu comentário:

Afirmei há uns meses, numa postagem sobre as eleições zimbabuéanas, que o resultado das eleições presidenciais não depende do escrutínio popular, mas depende do humor de Robert Mugabe e da sua guarda pretoriana. De facto, estão a confirmar-se os meus receios. Que Deus proteja o povo do Zimbabué e Tsvangirai!

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