Avançar para o conteúdo principal

Visitando outro blogue (14)


Nas minhas habituais espreitadelas nos vários blogues sobre Timor, encontrei um texto de António Veríssimo, antigo moderador do blogue Timor Lorosae Nação, afastado (presume-se) do referido fórum por imprimir um cunho mais democrático na moderação dos comentários dos leitores, que em entrelinhas transparece uma certa mágoa pela incompreensão de algumas mentes mais fundamentalistas.

Apesar de diferenças de posicionamento político relativamente à política timorense, António Veríssimo tem recebido palavras de solidariedade de timorenses e amigos de Timor de vários quadrantes ideológicos, habituais leitores e comentaristas do Timor Lorosae Nação, estranhando o seu afastamento voluntário (?) e também porque se verificou que assim que este moderador democrata saiu de cena os senhores do lápis azul agiram de imediato, cortando vários comentários dos seus habituais participantes na discussão. Transcrevo também nesta postagem o comentário de Sakunar Sacana sobre o referido texto de António Veríssimo.


ACORDAI!

Evidentemente que quem envereda por se expor está a partir desse momento a habilitar-se a sofrer críticas. É natural. Não importa se são construtivas ou destrutivas, importa que são críticas que reflectem pontos de vista de quem reage à nossa opinião ou comportamento, seja onde for. Pode ser no cinema, rádio, televisão, política, jornais, etc. Coisa pública é assim e pior ainda quando se dá a cara, porque nos toca directamente. É normal. Nesta coisa dos blogues também é assim e se houver quem diga que não é saudável ficarei muito espantado.

Após as críticas a que se sujeita quem se expõe podemos fazer duas de muitas coisas: responder ou não responder e fazer que ignoramos. Claro que ainda podemos nem sequer tomar delas conhecimento, bastando para isso, neste caso, no caso dos blogues, não as ler e pura e simplesmente atirá-las para o lixo electrónico se chegarem por mail, ou não ler os comentários de for o caso. Cá por mim as críticas são para tomar em consideração, exceptuando as que vêm recheadas de palavras imprópria para consumo saudável.

Sei, porque sei, que no caso daquilo que está inserido no Timor Lorosae Nação, nos comentários, as críticas são provenientes, na maior parte dos casos de gente jovem, mas também de meia-idade, algumas até de organismos estatais de TL, vulgo funcionários públicos… ou lá próximo. Só por esse facto, pela falta de conhecimentos, pela falta de vivências, predisponho-me sempre a ser complacente e didáctico tanto quanto posso e sei, sem saber se realmente o consigo.

Sobre Timor-Leste, no Timor Lorosae Nação, principalmente, tenho procurado fazer sentir com toda a honestidade os meus receios relativamente à situação política do país e se algumas vezes exagero faço-o conscientemente, considerando esse exagero como se fosse um safanão que temos de dar a quem é mais dorminhoco e não quer acordar. Evidentemente que me podem mandar bugiar – que é aquilo que alguns fazem – e dizer-me que não tenho nada de lhes interromper o sono. Tudo bem. Mas isso não invalida que de vez em quando até indirectamente o safanão lhes toque.

Ensinou-me a vida que há os que acordam e aqueles que preferem viver na sonolência para não perderem lugar no colchão. Nem sabem eles que o melhor é estarmos despertos. Esse é um dos principais estádios do ser humano livre e é aquilo que nos diferencia de toda a outra bicharada.

Mas há quem não pense assim e eu vou ter de respeitar. Eu quero respeitar. Eu consigo respeitar. Eu sei respeitar.

O simples facto de muitas das pessoas que me criticam serem timorenses e às vezes parecerem estar zangadas comigo incomoda-me, desconforta-me. Como me desconforta ter sabido desde sempre que houve timorenses que traíram os irmãos antes e depois da ocupação indonésia, tendo-o feito voluntariamente e a cobrar benefícios. É que eu nem conseguia imaginar timorenses a trair os seus próprios irmãos, tal como o fizeram certos portugueses durante a ocupação espanhola ou durante as invasões francesas, nada disso. Evidentemente que nesse aspecto era eu que estava a dormir e tive de acordar para a realidade dolorosa.

Timorense, para mim, até determinada altura, era algo de puro, de transcendente, por ter sido aquilo que vi e senti nos anos em que acordava e adormecia com timorenses à minha volta, com eles todo o dia vivia. E se vivia! Mas está bem (mal), pronto, no melhor pano cai a nódoa… e em Timor também passou a existir traidores. Afinal, tal qual as baratas, há por todo o lado e na maior parte das vezes nem os vimos. Exactamente porque agora (e de há tempos para cá) já admito a existência de traidores de origem timorense é que imponho a mim próprio muitas cautelas nas análises que faço e nas pesquisas que me podem ou não pôr de sobreaviso sobre certas pessoas e situações.

Não me importam sobremaneira as pessoas do povo que possam ou não trair um amigo, um vizinho, apesar de as reprovar seriamente. Aquilo que me importa é os traidores da elite. Os que detêm as rédeas do Poder Militar e Político, os que se esforçam denodadamente por segurarem também as rédeas do Poder Judicial. São esses que me importam e me preocupam bastante. É contra esses que estou… e não me importa de que partidos políticos sejam ou venham a ser. Esses são os verdadeiros inimigos dos timorenses, os verdadeiros inimigos de Timor-Leste!

Evidentemente que quando se fala e se comprovam “negociatas” de cedências de terrenos que abrangem áreas enormes de um país tão pequeno, quando se fala em processos contratuais de muitas dezenas de anos ou até uma centena ou mais.

Quando se fala de deixar para outros os controles de regulação da exploração do Mar de Timor…

Quando não se fala, nem quase nada se faz, para resolver os problemas dos desalojados, da Lei da Terra e das Propriedades…

Quando se fala em despender quase dois milhões de dólares americanos em viaturas para deputados e nem um milhão se despende para construção de casas…

Quando se abraçam impavidamente generais torcionários de centenas de milhares de timorenses ou se vai ao funeral de um ditador - principal responsável por essas centenas de milhares, quando podem para o efeito da manutenção de boas relações diplomáticas enviar um Secretário de Estado…

Quando se nomeiam mulheres e familiares de ministros e detentores de outros cargos de Estado para negócios que por vezes envolvem milhões de dólares…

Quando a “vox populi” e a oposição falam em corrupção acentuada e a reacção é a esfarrapada frase “os rumores em Timor…” em busca do esvaziamento dos “zunzuns” e/ou do que é apontado como indícios…

Quando se prometeu roupas, calçado, computadores nas escolas… mas as crianças continuam esfarrapadas, mal vestidas, descalças, sem frequentar as aulas pedindo e vagueando pelas ruas…

Quando essas mesmas crianças apedrejam a viatura do primeiro-ministro e lhe chamam traidor e ainda isso pincham nas paredes… Mas, afinal, quem não quer um safanão e acordar deste pesadelo?

Certo e sabido é que mais uma vez virão para os comentários dizer que esta é uma operação Fretilin, patati-patatá…

Ora, meus caros, eu quero que a Fretilin, e todos os partidos que não respeitem as regras democráticas vão prá… (isso)! Quem poderia acusar de traição os que não agissem como mais acima reza e me parece ser incontestável?

Se, na realidade, conforme o prometido, as prioridades fossem para a reconstrução de casas e realojamento das pessoas…

Se as crianças andassem TODAS a frequentar o ensino OBRIGATÓRIO e não a vadiar, a esmolar… (é que andando uma na rua nessas circunstâncias em horário escolar já é demais).

Se os negócios e medidas anunciadas para esses negócios não existissem e em vez disso se notasse uma forte aposta no desenvolvimento das pescas, da indústria, da agricultura dirigida para produtos necessários às populações de forma a fomentar a auto-sustentabilidade…

Assim, quem poderia chamar-lhes traidores?

Assim, quem poderia reprovar as decisões e as medidas postas em prática?

Não seria assim que não se deixaria lugar a dúvidas de que o “regime” anterior não prestava ou pelo menos que este governo era melhor?

Seria, seria, mas não é aquilo que infelizmente acontece, antes pelo contrário. Como tal, porque tudo se está a desenhar para um apressado e violento saque das riquezas do país, pertencentes ao seu povo e para ele disso beneficiar desde JÁ, porque os traidores e criminosos saqueadores sabem muito bem aquilo que estão a fazer e tementes requerem com veemência que militares estrangeiros os protejam…

Acordem, aproveitem os safanões e procurem alternativas que devolvam o seu a seu dono, aos timorenses, porque os saqueadores já roubaram demais até este momento. Já assim o estão a fazer desde o princípio deste século, antes da proclamação da independência reconhecida pela comunidade internacional!

Chega! ACORDAI!

António Veríssimo

Publicado no blogue http://paginalusofona.blogspot.com/

Comentário de Sakunar Sacana:

Amigo Veríssimo:

Ao ler o seu texto, aliás muito bem "esgalhado", lembrei-me de um comentário meu que como o seu também fala de "O SEU A SEU DONO" e envio-lho como uma achega para construção de idéias e "desidéias" sobre Timor. Um abraço.

XANANA ESTÁ A GOVERNAR O PAÍS COM UM ORÇAMENTO EQUIVALENTE A QUATRO ANOS DE ORÇAMENTO DE ESTADO DO MEU TEMPO. (Mari Alkatiri)

Alkatiri ainda não percebeu que o dinheiro do petróleo de Timor pertence ao povo e não a ele, à sua família, e à Fretilin?

Um povo que sofreu durante séculos a pobreza que uma colonização pobre, que nada lhe deu, e que ansiava pela sua independência, tanto política como económica, principalmente para poderem usufruir dos bens a que tem direito, não pode sem um sentimento de revolta compreender, que enquanto alguns governantes ficam ricos, eles os efectivos donos do pais continuam pobres.

Os orçamentos rigorosos do Mari Alkatiri, foram rigorosos mas curtos, pois que para ele apenas contavam aqueles que giravam à sua volta, e os que possuíam os tais cartões mágicos de sócios da Fretilin.

Quando o Primeiro Ministro Xanana que ele coloca agora ao nivel de estúpido, começou a governar, determinou como objectivo primeiríssimo o povo, o tal povo que durante quatro longos anos de Independência tinha visto ao longe o brilho da riqueza na mão daqueles que o governava.

O que o Xanana está a fazer é dar um pouco do SEU A SEU DONO, pois que em 8 meses de governação, onde foi de todo o modo destabilizado pela acção dos patriotas Fretilianos que como sempre pôem o Partido acima da Nação, pouco poderia fazer sobre reformas e implementações de raíz.

Os problemas deixados pelo governo anterior, como os desalojados e os principalmente os peticionários e também os atentados contra o PRESIDENTE e PRIMEIRO MINISTRO, surgidos, estou certo, da necessidade de destabilizar, foram obstáculos de grande relevo no panorama político da Nação.

Quando o doente está a morrer, PRIMEIRO USAM-SE OS REMÉDIOS E SÓ DEPOIS SE PERGUNTA QUEM OS VAI PAGAR.

O Orçamento de Xanana é isso mesmo, era urgente salvar o doente, o povo, e por isso o orçamento teria que ser maior do que o de Alkatiri, E AINDA BEM!

...A CRIAÇÃO DE UM FUNDO QUE JÁ ULTRAPASSOU EM MUITO AS EXPECTATIVAS, QUE JÁ ATINGIU O VALOR QUE ERA ESPERADO TER EM 2019.

Claro que o fundo referido é mesmo esse que nós sabemos, e que determina, a urgência que o Mari pôe nas eleições antecipadas. O dinheirão que está guardado em nome de Timor, e que pertence a todos os Timorenses, faz cócegas nas mãos do senhor Alkatiri, pois que ainda por cima o Xanana está a dividi-lo pelos seus donos (o povo) em subsídios para a terceira idade, e outros benefícios a que o povo tem direito.

Já surgem reclamações de que os subsídios que o governo está a dar para compensar o aumento do preço dos artigos de primeira necessidade, mata a agricultura, pois que esses artigos ficam mais baratos do que podem ser produzidos. Demagogias de quem nunca se preocupou com a agricultura, deixando àreas como as de Suai e outras, entregues a pessoas que apenas davam assistência aqueles que eram das suas cores.

Como disse o meu amigo A. Veríssimo de que no tempo de Mari Alkatiri “Mais importante que regular a intromissão da igreja no ensino oficial, ou os efectivos militares, seria desenvolver as pescas, a agricultura, a indústria, o comércio e cativar investimento… Isso não foi feito com a paixão devida”.

Concordo e subscrevo.

VAMOS FAZER UM TRABALHO POLÍTICO MAIS PROFUNDO COM A POPULAÇÃO PARA ESTA ENTENDER A SITUAÇÃO E VER A DIFERENÇA ENTRE ESTES DOIS GOVERNOS".(Mari Alkatiri)

O trabalho profundo que Mari terá que fazer é explicar ao povo que aquilo que Xanana faz é mau para o País porque esses subsídios que o governo está a dar facilitando a vida difícil dos Timorenses, os vai tornar preguiçosos e dependentes desses benefícios.

Que a Fretilin vai fazer orçamentos pequenos, fáceis de executar e vai criar estruturas nacionais para aumentar a riqueza do País, e que daqui a 20 ou 30 anos o povo já pode começar a usufruir da riqueza Nacional. Antes, subsídios e outros beneficios para o povo, NADA.

Que todos aqueles que quizerem ser Timorenses de “gema” terão que ter o cartãozinho e cotas em dia, e esses sim podem ter todas as benesses de Timorenses.

Mari tem que pensar que esse trabalho político mais profundo já está feito pois que o povo de Timor, é, mercê de muitas mentiras do passado, desde dos tempos de “hori uluk”, um politíco atento a todas as nuances da governação.

O Mari que não se esqueça que a força da Fretilin é uma força de “suku”, que se encontra no Leste do País, e que essa força são essencialmente os 29% da votação que encontrou nas ultimas eleições. Eles votaram na Fretilin de Luolo e não na Fretilin de Alkatiri, cujo “suku” se situa no Yémen, e em Maputo.

Não se esqueça que o trabalho profundo com a população, fez ele próprio durante os quatro anos de governação, e mais, que o Luolo está à espreita para um dia ser o Secretário-Geral.

Quem o avisa amigo(?) é. Amigo? conhecido e de longe.


SAKUNAR SACANA

18 de Junho de 2008 7
:06

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Governo PS dos Açores suspendeu a ADD!!

O governo do Partido Socialista dos Açores suspendeu o modelo de avaliação do desempenho de professores imposto pela equipa da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, substituindo-o por um modelo simplificado de avaliação. Mais: vai 'reconstruir' a carreira dos docentes contando também para a progressão da carreira os dois anos e quatro meses congelados pela 'reforma' do PM Sócrates.. A questão que se impõe agora é a seguinte: A República Portuguesa é ou não um Estado Unitário?!

Língua materna como língua de instrução: estupidez e teimosia do ME timorense

O melhor caminho para desenvolver as línguas maternas timorenses - vulgo línguas nacionais - é constituir equipas de estudiosos falantes nativos de cada uma das línguas (com a ajuda e colaboração de linguistas) para as estudar, analisar e estruturar a sua morfologia e sintaxe, e posterior aprovação da sua norma ortográfica pelo Parlamento Nacional a fim de haver uniformização no seu uso e ensino, evitando que uma mesma palavra tenha três ou quatro grafias diferentes. A política educativa deve estar integrada na estratégia de defesa e segurança nacional. Não deve servir, nunca, para abrir brechas na segurança e unidade do país. A educação não se limita apenas a ensinar a ler e a escrever ("literacia") e a ensinar efectuar operações aritméticas ("numeracia"). Num país multilingue - como o nosso - e de tradição oral é imperativo haver uma língua de comunicação comum a todos os falantes das cerca de uma vintena de línguas nacionais. Neste momento, o tétum já preenche es