O centenário do antropólogo imortal
Pode bem dizer-se que é o mais velho do immortels (imortais, o nome dado aos membros da Academia Francesa). A 28 de Maio, o fundador da antropologia estruturalista tornou-se o primerio membro centenário da pluricentenária instituição, para onde entrou em 1973. A sua obra mais emblemática, Tristes trópicos (1955), consiste num relato autobiográfico da experiência que viveu junto dos índios do Brasil entre 1935, ano em que foi convidado para professor na Universidade de São Paulo, e 1939, ano em que regressou a França. Embora tenha viajado extensivamente pelo Mato Grosso e Amazónia - ora na carrinha Ford, ora em carros puxados a bois ou, ainda, a pé -, haveria de escrever no prefácio do seu livro mais célebre: «Tenho ódio aos viajantes e aos exploradores».
Regressado do Brasil, Lévi-Strauss foi um dos membros impulsionadores do movimento ecologista. E, antes do regresso definitivo à Europa, passou por Nova Iorque onde se juntou a uma já impressionante concentração de intelectuais europeus fugidos à guerra. Em Paris, tornou-se sub-director do Museu do Homem, o mais importante dedicado à Antropologia, e fundou a Revista L'Homme.
Aplicou a sua análise estruturalista aos estudo das relações familiares e dos mitos, que reduziu à essência cunhando a designação 'mitema'. Comparou, por exemplo, as tatuagens dos chefes das tribos índias brasileiras aos brasões da nobreza europeia.
Este ano de celebração ficou marcado por uma jornada, com afluência recorde, no Museu de Quay de Branly (que possui a colecção de fotografias e objectos recolhidos nas expedições sul-americanas), uma homenagem na Academia Francesa e uma exposição com manuscritos, cadernos de viagens e objectos pertencentes ao antropólogo.
Embora o seu nome reúna consenso (no dia do seu 100º aniversário recebeu, por exemplo, a visita do Presidente Sarkozi), durante a vida esteve envolvido em várias polémicas. Em 1980 foi um dos académicos que se opuseram a que Marguerite Yourcenar (que, como ele, havia nascido na Bélgica) fosse a primeira mulher a ser eleita para a Academia Francesa. A sua própria eleição havia suscitado muitas dúvidas.
Um prémio para as Ciências Humanas com o seu nome, no valor de 100 mil euros, vai ser atribuído pela primeira vez em 2009.
José Cabrita Saraiva
in Revista Tabu (SOL nº 120, 27 de Dezembro 2008)
Pode bem dizer-se que é o mais velho do immortels (imortais, o nome dado aos membros da Academia Francesa). A 28 de Maio, o fundador da antropologia estruturalista tornou-se o primerio membro centenário da pluricentenária instituição, para onde entrou em 1973. A sua obra mais emblemática, Tristes trópicos (1955), consiste num relato autobiográfico da experiência que viveu junto dos índios do Brasil entre 1935, ano em que foi convidado para professor na Universidade de São Paulo, e 1939, ano em que regressou a França. Embora tenha viajado extensivamente pelo Mato Grosso e Amazónia - ora na carrinha Ford, ora em carros puxados a bois ou, ainda, a pé -, haveria de escrever no prefácio do seu livro mais célebre: «Tenho ódio aos viajantes e aos exploradores».
Regressado do Brasil, Lévi-Strauss foi um dos membros impulsionadores do movimento ecologista. E, antes do regresso definitivo à Europa, passou por Nova Iorque onde se juntou a uma já impressionante concentração de intelectuais europeus fugidos à guerra. Em Paris, tornou-se sub-director do Museu do Homem, o mais importante dedicado à Antropologia, e fundou a Revista L'Homme.
Aplicou a sua análise estruturalista aos estudo das relações familiares e dos mitos, que reduziu à essência cunhando a designação 'mitema'. Comparou, por exemplo, as tatuagens dos chefes das tribos índias brasileiras aos brasões da nobreza europeia.
Este ano de celebração ficou marcado por uma jornada, com afluência recorde, no Museu de Quay de Branly (que possui a colecção de fotografias e objectos recolhidos nas expedições sul-americanas), uma homenagem na Academia Francesa e uma exposição com manuscritos, cadernos de viagens e objectos pertencentes ao antropólogo.
Embora o seu nome reúna consenso (no dia do seu 100º aniversário recebeu, por exemplo, a visita do Presidente Sarkozi), durante a vida esteve envolvido em várias polémicas. Em 1980 foi um dos académicos que se opuseram a que Marguerite Yourcenar (que, como ele, havia nascido na Bélgica) fosse a primeira mulher a ser eleita para a Academia Francesa. A sua própria eleição havia suscitado muitas dúvidas.
Um prémio para as Ciências Humanas com o seu nome, no valor de 100 mil euros, vai ser atribuído pela primeira vez em 2009.
José Cabrita Saraiva
in Revista Tabu (SOL nº 120, 27 de Dezembro 2008)
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