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Xanana: "A própria ONU precisa de uma grande reforma."

Não resisto em publicar mais um excerto do discurso de Xanana Gusmão - que fala da sustentabilidade e transparência - proferido dia 17/5, no Centro de Convenções de Díli.

«E o Mundo precisa de uma grande reforma. As grandes e pesadas organizações, no mundo, precisam de uma grande e profunda reforma a fim de se proceder a uma limpeza à casa para, deste modo, adquirirem experiência para poder aspirar a limpar o quintal de outros. A própria ONU precisa de uma grande reforma.

Em 2004, eu, enquanto Presidente da República, Dr. Ramos-Horta era ainda Ministro dos Negócios Estrangeiros, fomos em visita à Alemanha. O Presidente alemão solicitou a Timor-Leste para apoiar a Reforma na ONU e a sua candidatura ao Conselho de Segurança. Eu disse ao Presidente alemão o seguinte: "A Reforma na ONU não pode limitar-se apenas a admissão de novos membros ao Conselho de Segurança. Tem de haver mesmo uma reforma, porque a ONU é uma organização muito pesada e burocrática, que gasta muito dinheiro... e todos nós constatámos que a pobreza e os pobres continuam a aumentar no mundo inteiro."

Tem de haver, imperativamente, reforma nas agências - agências essas que recrutam num círculo fechado os seus colaboradores para defenderem, apenas de "boca para fora", padrões e 'standards' que não praticam. Os países poderosos e ricos não podem continuar a impor as suas regras ao resto do mundo. E os países pequenos e pobres não podem calar-se e limitar-se apenas a receber e aceitar passivamente recomendações e palavras ocas que entram nos seus ouvidos.

Em Fevereiro, participei na "Jakarta International Dialogue on Defense". Na minha intervenção, desafiei os participantes, civis e militares, da Europa a Ásia, dos representantes da ONU a África e Médio Oriente, para dizer o seguinte: "Porque é que não procuramos uma via, um caminho para acabar com muitas guerras que gastam, em cada ano, biliões de dólares, para que a comunidade internacional possa elaborar um bom plano [de auxílio] para solucionar a falta de água em regiões áridas, sobretudo em África, para que, deste modo, o dinheiro destinado à guerra pudesse salvar centenas de milhões de pessoas, com verdadeira sustentabilidade?"

Nesta conferência também havia um tópico que se relacionava com transparência relativa a ajudas vindas de fora. Falei, em jeito de provocação, das Agências internacionais que gastam enormes somas de dinheiro [no combate à fome], e, em algumas regiões de intervenção dessas agências, uma vez terminada a distribuição de arroz, elaboram grandes e extensos relatórios dizendo que estão a salvar gente da fome para pedir mais dinheiro a fim de continuarem simplesmente a distribuir arroz.

A somar a isto [transparência], temos sustentabilidade, que, hoje em dia, se tornou em uma palavra cara para alguns "experts" nesta nossa querida terra. Algumas Agências ou ONGs, depois de conseguirem financiamento, vêm realizar algum trabalho e, uma vez esgotado o dinheiro, vêm a correr pedir ajuda ao Governo para não encerrarem as portas. No entanto, todos dias, vêm pregar-nos a sustentabilidade. E, também, aqueles timorenses que se tornaram já "experts" vêm todos os dias pregar-nos a sustentabilidade. Porquê? Porque se não berrarem, os financiadores deixam de lhes dar dinheiro, assim também eles já não têm sustentabilidade.»

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