CARLA AGUIAR
PAULO SPRANGER
As maternidades portuguesas adoptam e recomendam práticas erradas no acompanhamento dos recém-nascidos, acusa o pediatra Mário Cordeiro. "É intrigante e perturbador constatar que 18 anos depois de existir uma orientação técnica da Direcção--Geral da Saúde a dizer que as crianças não se devem deitar de lado, porque isso aumenta para o dobro a probabilidade de morte súbita, mas de costas, profissionais de saúde continuem a recomendar essa prática", disse o médico ao DN.
Um estudo concluído no final do ano passado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, baseado em inquérito às mães, a seguir à alta médica, constatou que "em 90% dos casos foi-lhes recomendado pelas enfermeiras que deitassem os bebés de lado".
Esta situação leva aquele pediatra a considerar que é preciso "questionar e responsabilizar os directores de serviço dos hospitais que não fazem um acompanhamento do modo como os profissionais estão a seguir as orientações técnicas e as evidências científicas". Felizmente - acrescentou - os pais, por intuição e porque procuram outras fontes de informação, nem sempre seguem essas recomendações. De outro modo e fazendo uma extrapolação a partir das estatísticas, "poderiam morrer 20 bebés por ano por morte súbita".
O pediatra participou ontem num debate promovido pela Pais & Filhos, no qual se questionou a prática de hospitais que não deixam o pai assistir ao parto. "Sei que há uma norma interna no Hospital Cuf Descobertas, por exemplo, em que nos casos de cesariana e epidural o pai não pode estar presente", disse ao DN.
Na mesma linha, o pedopsiquiatra Eduardo Sá considerou que as evidências científicas demonstram que "sempre que o pai está presente o trabalho de parto é menor, o mesmo acontecendo, até com melhores resultados, quando a mãe da grávida lá está". Em conclusão, "se as maternidades humanizarem o trabalho de parto ganha-se em saúde mental e reforça-se a ligação entre pai e filho".
No debate, subordinado ao tema "Nascer em Portugal: sofrimento ou prazer", os especialistas questionaram ainda a hipermedicalização do parto e o excessivo recurso às cesarianas que, em Portugal, representam 34% dos partos (nos hospitais privados chega mesmo aos 60%), quando a média europeia se fixa nos 25% e a Organização Mundial de Saúde recomenda que não se ultrapasse a meta dos 10 a 15%. O médico Diogo Aires de Campos apontou as vantagens do banho de imersão na primeira fase do parto e criticou a utilização sistemática dos clisters e das episiotomias.
DN Online, 29-05-2008
PAULO SPRANGER
As maternidades portuguesas adoptam e recomendam práticas erradas no acompanhamento dos recém-nascidos, acusa o pediatra Mário Cordeiro. "É intrigante e perturbador constatar que 18 anos depois de existir uma orientação técnica da Direcção--Geral da Saúde a dizer que as crianças não se devem deitar de lado, porque isso aumenta para o dobro a probabilidade de morte súbita, mas de costas, profissionais de saúde continuem a recomendar essa prática", disse o médico ao DN.
Um estudo concluído no final do ano passado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, baseado em inquérito às mães, a seguir à alta médica, constatou que "em 90% dos casos foi-lhes recomendado pelas enfermeiras que deitassem os bebés de lado".
Esta situação leva aquele pediatra a considerar que é preciso "questionar e responsabilizar os directores de serviço dos hospitais que não fazem um acompanhamento do modo como os profissionais estão a seguir as orientações técnicas e as evidências científicas". Felizmente - acrescentou - os pais, por intuição e porque procuram outras fontes de informação, nem sempre seguem essas recomendações. De outro modo e fazendo uma extrapolação a partir das estatísticas, "poderiam morrer 20 bebés por ano por morte súbita".
O pediatra participou ontem num debate promovido pela Pais & Filhos, no qual se questionou a prática de hospitais que não deixam o pai assistir ao parto. "Sei que há uma norma interna no Hospital Cuf Descobertas, por exemplo, em que nos casos de cesariana e epidural o pai não pode estar presente", disse ao DN.
Na mesma linha, o pedopsiquiatra Eduardo Sá considerou que as evidências científicas demonstram que "sempre que o pai está presente o trabalho de parto é menor, o mesmo acontecendo, até com melhores resultados, quando a mãe da grávida lá está". Em conclusão, "se as maternidades humanizarem o trabalho de parto ganha-se em saúde mental e reforça-se a ligação entre pai e filho".
No debate, subordinado ao tema "Nascer em Portugal: sofrimento ou prazer", os especialistas questionaram ainda a hipermedicalização do parto e o excessivo recurso às cesarianas que, em Portugal, representam 34% dos partos (nos hospitais privados chega mesmo aos 60%), quando a média europeia se fixa nos 25% e a Organização Mundial de Saúde recomenda que não se ultrapasse a meta dos 10 a 15%. O médico Diogo Aires de Campos apontou as vantagens do banho de imersão na primeira fase do parto e criticou a utilização sistemática dos clisters e das episiotomias.
DN Online, 29-05-2008
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