O tiro pela culatra
BOB GELDOF, o famoso activista e criador do Live Aid e Live 8, veio a Portugal a convite do Banco Espírito Santo (BES) e do Expresso para falar sobre desenvolvimento sustentável. O tema proposto intitulava-se Fazer a Diferença. O músico de origem irlandesa cumpriu: fez a diferença ao insultar os dirigentes angolanos como «criminosos» e não deixou ninguém indiferente.
O BES demarcou-se dos ataques de Bob Geldof, condenando as suas palavras através de um comunicado, onde taxativamente diz ser «totalmente alheio» às declarações do músico.
É nestas alturas que se diz que o 'tiro saiu pela culatra'. O BES pretendia passar uma mensagem de que é uma instituição preocupada com o desenvolvimento sustentável no mundo e acabou a pedir 'desculpas' ao governo angolano pelo comportamento do seu convidado. Os negócios a isso obrigam. Apesar de a maioria concordar que o regime angolano não é dos mais democráticos do mundo, o músico foi longe demais. Acusou gratuitamente, baseando-se no possível luxo de algumas casas, quando haveria outros motivos mais graves que poderia ter exposto. E a crítica à postura dos países europeus perante África faz todo o sentido. É um misto de 'colaboração' para o estatus quo dos governos africanos condimentado com ajuda humanitária tendencialmente perene.
António José Gouveia
Confidencial - Economia e Negócios,
Suplemento do semanário SOL, Edição nº 87, 10 Maio 2008
Outro africano
ASSUNÇÃO dos Anjos, embaixador de Angola em Portugal, não abandonou a conferência de Bob Geldof sobre o desenvolvimento sustentável (terça-feira passada, no Pestana Palace), como chegou a ser noticiado, pela simples razão de que não estava presente.
Outro africano, que assistia a conferência, saiu da sala no preciso momento em que Geldof falava dos excessos das autoridades angolanas, por uma coincidente aflição, para ir à casa de banho. E alguns jornalistas fizeram da nuvem Juno - que é como quem diz, de um africano anónimo fizeram um embaixador. De resto, o dito africano apressou-se a regressar à sala, logo depois de se aliviar.
A aflição mais duradoura foi a de Ricardo Salgado, que esteve a patrocinar a conferência de um conhecido lutador pelos direitos civis e que esperaria tudo menos que o seu convidado viesse denunciar publicamente alguns conhecidos violadores desses direitos. Por sinal, seus parceiros de negócios... E o que vai acontecer a Paulo Brandão, director de comunicação do BES e eventual responsável pelo imbróglio? Depois do comnuicado a distanciar-se de Geldof, talvez seja obrigado a fazer um curso de reciclagem em Angola.
SOL, nº 87, 10 Maio 2008
BOB GELDOF, o famoso activista e criador do Live Aid e Live 8, veio a Portugal a convite do Banco Espírito Santo (BES) e do Expresso para falar sobre desenvolvimento sustentável. O tema proposto intitulava-se Fazer a Diferença. O músico de origem irlandesa cumpriu: fez a diferença ao insultar os dirigentes angolanos como «criminosos» e não deixou ninguém indiferente.
O BES demarcou-se dos ataques de Bob Geldof, condenando as suas palavras através de um comunicado, onde taxativamente diz ser «totalmente alheio» às declarações do músico.
É nestas alturas que se diz que o 'tiro saiu pela culatra'. O BES pretendia passar uma mensagem de que é uma instituição preocupada com o desenvolvimento sustentável no mundo e acabou a pedir 'desculpas' ao governo angolano pelo comportamento do seu convidado. Os negócios a isso obrigam. Apesar de a maioria concordar que o regime angolano não é dos mais democráticos do mundo, o músico foi longe demais. Acusou gratuitamente, baseando-se no possível luxo de algumas casas, quando haveria outros motivos mais graves que poderia ter exposto. E a crítica à postura dos países europeus perante África faz todo o sentido. É um misto de 'colaboração' para o estatus quo dos governos africanos condimentado com ajuda humanitária tendencialmente perene.
António José Gouveia
Confidencial - Economia e Negócios,
Suplemento do semanário SOL, Edição nº 87, 10 Maio 2008
Outro africano
ASSUNÇÃO dos Anjos, embaixador de Angola em Portugal, não abandonou a conferência de Bob Geldof sobre o desenvolvimento sustentável (terça-feira passada, no Pestana Palace), como chegou a ser noticiado, pela simples razão de que não estava presente.
Outro africano, que assistia a conferência, saiu da sala no preciso momento em que Geldof falava dos excessos das autoridades angolanas, por uma coincidente aflição, para ir à casa de banho. E alguns jornalistas fizeram da nuvem Juno - que é como quem diz, de um africano anónimo fizeram um embaixador. De resto, o dito africano apressou-se a regressar à sala, logo depois de se aliviar.
A aflição mais duradoura foi a de Ricardo Salgado, que esteve a patrocinar a conferência de um conhecido lutador pelos direitos civis e que esperaria tudo menos que o seu convidado viesse denunciar publicamente alguns conhecidos violadores desses direitos. Por sinal, seus parceiros de negócios... E o que vai acontecer a Paulo Brandão, director de comunicação do BES e eventual responsável pelo imbróglio? Depois do comnuicado a distanciar-se de Geldof, talvez seja obrigado a fazer um curso de reciclagem em Angola.
SOL, nº 87, 10 Maio 2008
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