As notícias que nos chegam dos estudos científicos sobre a educação têm vindo a contradizer inúmeros lugares-comuns, incluindo muitos ainda hoje disseminados, paradoxalmente, em nome dos «estudos de educação».
Sobrevaloriza-se, por exemplo, a importância dos exemplos concretos na aprendizagem da matemática. Afirma-se que é preciso começar com exemplos de laranjas ou pizas, que tudo deve partir de situações concretas, que a abstracção só deve vir depois, e apenas de forma natural e não imposta. Estas ideias encontram algum eco, naturalmente. Muitos pais e professores estão preocupados com o ensino.
Reconhecem nos jovens dificuldade em apreender conceitos matemáticos. Vêem que muitos são capazes de resolver alguns problemas de papel e lápis, mas têm dificuldade em aplicar os seus conhecimentos em situações concretas - parece que se esquecem do que aprenderam.
Estas preocupações são legítimas, claro. Mas a corrente pedagógica construtivista tem acentuado estes problemas, que são reais, muitas vezes concluindo, erradamente, que todo o ensino deve ser feito em contexto. Um importante estudo publicado na semana passada na «Science» (vol. 320, pág. 454) fez uma comparação controlada da capacidade de transferência de conceitos algébricos em estudantes ensinados de três maneiras diferentes: apenas com exemplos concretos, com exemplos concretos e estudo abstracto e apenas com estudos abastracto. Os estudantes que melhor foram capazes de aplicar os novos conhecimentos a novas situações concretas reais foram os últimos.
Surpreendente? Às vezes as laranjas fazem esquecer a matemática.
Nuno Crato
Revista ÚNICA, Expresso nº 1853, 3 Maio 2008
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