Secretário-geral da ONU pede adiamento do 2º turno da eleição no Zimbábue
Tensão cresce no país depois que a oposição retirou sua candidatura temendo violência. Oposicionista refugiou-se na embaixada da Holanda, e 39 foram presos na sede do partido.
Do G1, com agências internacionais
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo nesta segunda-feira (23) para que o governo do Zimbábue adie o segundo turno das eleições presidenciais, marcadas para a próxima sexta.
A tensão cresce no país africano depois que o candidato oposicionista, Morgan Tsvangirai, retirou sua candidatura no domingo, acusando o governo de praticar um "genocídio" e de perseguir seu partido.
Segundo Ban Ki-moon, os temores da oposição em relação à violência são "compreensíveis". Ele fez uma recomendação forte para que o regime do presidente Mugabe adie as eleições, pois, com o país dividido, a votação não teria legitimidade.
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Temendo violência, Tsvangirai refugiou-se na embaixada holandesa no país, segundo o ministério holandês de relações exteriores.
Segundo o ministério, Tsvangirai passou a noite na embaixada, depois de, neste domingo (22), ter retirado sua candidatura e denunciado pressões ilegais do regime de Mugabe contra seus partidários.
De acordo com a embaixada, Tsvangirai passou a noite na embaixada por uma questão de segurança, mas não pediu asilo. Seus partidários informaram que ele pode passar a próxima noite novamente na embaixada.
Em entrevista à CNN nesta segunda, Tsvangirai pediu à comunidade internacional que considere "nulas" as eleições presidenciais da próxima sexta-feira.
Também nesta segunda, políciais armados invadiram a sede do oposicionista Movimento para a Mudança Democrática, de Tsvangirai, prendendo ao menos 39 pessoas que estavam no local, inclusive mulheres e crianças.
Segundo um porta-voz do partido, os detidos são partidários da oposição que tinham se abrigado na sede do partido para evitar perseguição política.
De acordo com o porta-voz da polícia, Wayne Bvudzijena, a prisão foi feita por "motivos sanitários".
Retirada da candidatura
O anúncio da retirada da candidatura de Tsvangirai foi feito domingo em uma entrevista em Harare, depois que adeptos do ditador Robert Mugabe atacaram um comício da oposição naquela cidade.
Tsvangirai disse que existe um "complô de Estado" para garantir a reeleição de Mugabe e que não há "garantias" no país para eleições livres e justas na sexta.
O oposicionista também disse que o Zimbábue enfrenta um "genocídio" e pediu que as Nações Unidas e a União Africana tomem providências.
Segundo ele, Mugabe "declarou uma guerra" no país ao dizer que as balas de fuzil valem mais que as cédulas eleitorais. Ele pediu aos seus eleitores que não vão às urnas porque isso poderia "custar suas vidas". Segundo os oposicionistas, pelo menos 86 pessoas já foram mortas durante a campanha.
Repercussão
O governo do Zimbábue não pode ser legitimado sem o segundo turno das eleições, disse nesta segunda o embaixador dos EUA na ONU, Zalmay Khalilzad.
O ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, ao saber da retirada da candidatura oposicionista, determinou a suspensão da missão de observadores eleitorais brasileiros que iriam ao país, a convite do governo local.
O governo da vizinha África do Sul pediu que Tsvangirai continue negociando para achar uma solução pacífica para o impasse.
O ministro da Justiça do Zimbábue, Patrick Chinamasa, disse que a votação irá ocorrer normalmente na sexta-feira, a não ser que Tsvangirai retire formalmente a sua candidatura.
Ele rejeitou as acusações feitas pelo oposicionista contra o governo. Mugabe jurou repetidamente jamais entregar o poder à oposição, que ele classifica como "marionete" do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Ele, que governa desde a independência em 1980, culpou a oposição pela violência política e nega que forças de segurança tenham sido responsáveis pelas ações brutais recentes.
O ditador presidiu a ruína de uma economia outrora próspera. Milhões fugiram da crise política e econômica para países vizinhos.
Tendai Biti, um dos principais líderes do MDC e braço direito de Tsvangirai, está detido sob acusação de traição e outros crimes que podem resultar em pena de morte. Um magistrado ordenou sua detenção até pelo menos 7 de julho.
Mas existe pressão sobre o governo de Mugabe para encerrar a violência. Um coro crescente de líderes africanos acrescentou suas vozes às preocupações com a falta de legitimidade da eleição.
Com informações de AFP, AP e Reuters
Globo.com, 23-06-2008
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