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EDITORIAL do DN

Um momento muito delicado para o ensino e para o Governo

A manifestação dos professores, ontem, em Lisboa, a maior contestação de sempre às políticas do Ministério da Educação e o maior protesto sectorial pós-25 de Abril, culminou com o extremar de posições na escalada da tensão entre a mais unida classe profissional portuguesa e um Governo de maioria absoluta que ao fim de três anos ainda preserva elevados índices de popularidade.

No que respeita à manifestação, o seu sucesso não pode ser ignorado. Apesar do aproveitamento político em redor, os professores e os sindicatos conseguiram manter afastadas as bandeiras dos partidos. Foi um factor positivo que revela inteligência e dá mais força às suas posições.

Dito isto, é tempo de reconhecer que Portugal não pode desperdiçar esta oportunidade de reformar e tornar mais eficaz um sistema educativo doente.

A radicalização do confronto entre professores e Governo não serve os interesses de um país em que todos os anos há 120 mil alunos a chumbarem no ensino básico, 17% dos estudantes do secundário são repetentes e 46% abandonam a escola no 12.º ano.

O actual braço-de-ferro entre professores e ministra não deveria atingir o ponto de não retorno, aquele em que nenhuma das partes poderá ceder sob pena de perder a face.

É preciso pensar com a cabeça: nem os sindicatos podem promover manifestações destas todos os dias (ou prosseguir pela greve, que inevitavelmente faria chocar os professores com os pais) nem a ministra pode fingir que não viu.

Também não seria positivo que professores e sindicatos se batessem apenas pela cabeça da ministra. Maria de Lurdes Rodrigues, pelo que fez nestes três anos, merece o respeito de uma parte significativa dos portugueses. É uma técnica empenhada, trabalhadora, que não se poupou a incómodos para fazer aquilo em que acredita. O seu caminho está certo e quando muito pecou por excesso de velocidade, por não ter sabido avaliar o impacto das suas sucessivas decisões no actual corpo de professores portugueses, muito desgastado por mudanças sucessivas e perda de privilégios.

O problema, neste conflito, é encontrar espaço para o bom-senso.

Por isso, neste momento dramático para as escolas portuguesas valeria a pena pensar seriamente no recurso à disponibilidade manifestada por João Lobo Antunes para mediar este conflito.

Além de lúcida, a proposta tem o peso de vir da boca do ex-mandatário nacional de Cavaco Silva, que já deu sinais de estar muito preocupado com a situação. Uma arbitragem participada e aceite pelas partes em conflito permitiria aos professores porem em cima da mesa as suas propostas (até agora desconhecidas) relativamente aos temas mais quentes, como a avaliação, a gestão das escolas e o estatuto da carreira docente. Chegou a hora de a ministra ouvir e explicar e de os professores demonstrarem que estão interessados em melhorar o nosso sistema educativo e não em atirar a sua luta para um perigoso beco sem saída.

A questão é, também, saber o que pode aceitar o Governo de José Sócrates. O primeiro-ministro não desconhecerá que se deixasse cair Maria de Lourdes Rodrigues, a quem sempre apoiou, muito possivelmente nesse preciso momento também ele estaria a despedir-se de S. Bento.

O tempo para José Sócrates ceder na Educação sem consequências de maior terminou na recente remodelação. Há muita gente que já percebeu isso.

DN On line, 9/3/2008

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