A educadora de infância
A entrevista que a directora da DREN, Margarida Moreira, deu esta semana ao DN é um monumento de fidelidade à asneira. Orgulha-se a senhora de, no ano passado, ter aberto 778 processos, sendo o do professor Charrua, ‘um deles’. Extraordinário! Margarida Moreira abre mais de três processos por dia e nem descansa ao domingo. Pelo Norte, as coisas estão tão tortas, que não se vê outra solução, senão a de trocar de povo rapidamente. Verdade! A educadora infantil revela que está uma «campanha em curso» contra ela, porque «em dois anos mexeu em muitos interesses». Quais, pergunta a jornalista? «Havia uma coisa sórdida, mafiosa», garante Margarida. Em vários gabinetes de apoio a deficientes, pagavam-se indevidamente subsídios de ensino especial a miúdos que não o eram, apenas porque pertenciam a famílias pobres. Ela acabou com isso: «Reduzimos em milhões e milhões de euros os encargos da segurança social», conclui, orgulhosa. Lê-se e não se acredita. Admito que o Estado não faça vista grossa à lei, só porque quem o tenta enganar seja uma família pobre. Até aí, ainda posso ir, embora o bom senso recomendasse outras prioridades. O que não se entende é que a senhora fale «em milhões e milhões de euros», o que configuraria, na região Norte, uma fraude de dezenas e dezenas de milhares de famílias. E menos ainda que se exiba orgulho pela façanha, classificando-a de «luta sem quartel» aos «interesses». Esta conversa já releva da pura e simples insanidade.
Demência, pois. O inquérito revelará se o comentário do professor Charrua foi insulto ou piada de mau gosto. Mas Margarida Moreira não se limita a dar a sua opinião. Ela define, também, uma filosofia: «numa iniciativa desportiva, se alguém insultar o árbitro, o que é que acontece? E no talho da sua rua, se alguém insultar o patrão o que é que lhe acontece?» OK, ela está sob pressão, a vida não é fácil, e devia ter metido férias. Mas nestes exemplos só se descortina uma lógica razoável: a do arraial de tabefes como justiça informal. Qualquer outra, entupiria de tal modo os serviços de Justiça que lá se iam «os milhões e milhões de euros» recuperados no combate aos «interesses» dos pobres…
A directora reconhece ainda ter despachado seis professores, um dos quais cego. «Por alguma razão obscura?», interroga-se. Não, garante. «Mandei-os embora porque deixaram de ser necessários». Aliás, como se sabe, «há que emagrecer os serviços». É de uma frieza de estarrecer. E revela uma cultura. Não apenas a de sempre, que cultiva a autoridade pelo exercício da força. Revela, principalmente, a moderna, a do socratismo, que manda cortar a direito, sempre e sempre a direito. Em nome do défice, claro…Numa crónica recente, Eduardo Prado Coelho recomendava judiciosamente a Mário Lino que se abstivesse de abrir a boca em público. Razoável. O engenheiro até pode saber de obras, mas no que é mesmo especialista é a cavar a sepultura do Governo. Sucede que, ao pé de Margarida Moreira, o ministro passa por um simples e simpático menino de coro dos presidentes de câmara do Oeste.
Publicação: Saturday, June 16, 2007 8:00 AM por MiguelPortas
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