Depois de um interregno de 34 anos, 'renasceu' o Carnaval de Díli. Este é diferente do carnaval de há 34 e mais anos!
O carnaval de então era mais espontâneo na brincadeira e no espectáculo que proporcionava aos habitantes de cada bairro. Nas brincadeiras, participavam - sem excepção - novos e velhos, mulheres e crianças: consistiam em atirar uns contra os outros farinha (sobretudo) e alguns raros ovos (dizem que podres!). Para além de sujar a vestimenta de outros participantes com farinha e ovos, organizavam-se também desfiles de 'matronas' (transformistas) - homens vestidos de mulher com traje ocidental ou timorense, que faziam furor na miudagem - encabeçados por uma banda de rebecas, ukuleles e tambores. Diziam que o desfile mais famoso - nos anos setenta - era o da 'escola' de Kuluhun! Nesse dia era permitido atirar farinha e ovos a qualquer um que passasse pela rua do bairro. Mas havia uma excepção: nunca sujar alguém fardado - seja agente da polícia, soldado do exército ou da marinha ou qualquer um outro fardado que tem, também, prerrogativa de dar voz de prisão! Nesta última categoria entram os administradores do posto e do concelho e alguns funcionários do governo colonial.
O carnaval deste ano - segundo dizem as notícias - é organizado pelo Ministro do Turismo, com patrocínio da embaixada brasileira, portuguesa e australiana. Pasmem-se: até o Embaixador australiano não só sambou - aprendizagem feita em Brasília quando esteve destacado naquele nosso país irmão - como também encabeçou o desfile da 'escola' australiana, com 'sambistas' australo-timorenses (ex-exilados/asilados que adquiriram a nacionalidade australiana e seus descendentes) e australianos 'de gema'. Contudo, houve um senão: ninguém deve ter ensinado aos 'internacionais' destacados em Timor a regra de ouro do carnaval de Díli: nunca sujar alguém fardado! Deve ter sido o caso do casal de professores 'missionários' brasileiros, que teve a ousadia (por ignorância) de quebrar esta lei costumária dos habitantes de Díli. Resultado: muitas mazelas e voz de prisão ao professor e algumas mazelas no corpo da professora! E que até pode desembocar em conflito diplomático entre Lisboa e Brasília. Porque a farda era de um militar da GNR (herói para as crianças timorenses) destacado em Timor.
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