Com o fim das minhas férias retomo este meu blogue com a postagem de um artigo de opinião de Maria José Nogueira Pinto, publicado no Diário de Notícias, 6/9, sobre a política demográfica e educação.
CRIANÇAS A MENOS, PROFESSORES A MAIS
Maria José Nogueira Pinto
Gostava eu que a notícia fosse a abertura do ano escolar sem incidentes e com mais crianças, alegremente, a caminho da escola! Mas não é assim. Em Portugal nascem cada vez menos crianças, a taxa de natalidade é baixíssima, o envelhecimento demográfico um verdadeiro problema. Então podia ser esta a notícia: um alerta para o estado da nossa demografia. Mas também não. A notícia é a de que existem professores a mais e crianças a menos, parecendo ser mais preocupante o excedente de professores do que o deficit de crianças. Os números, sempre manipuláveis quando se quer criar um determinado efeito, variam de dez mil professores saídos nos últimos dois anos, a treze mil que estavam no activo no ano passado e hoje se encontram desempregados, mais quarenta e cinco mil que não conseguiram lugar numa escola. Confesso que não sei se devo somar ou subtrair, o certo é que muitos deixam de ter emprego e, pior, um trabalho para o qual se prepararam e no qual investiram parte da sua vida.Cada abertura do ano escolar contempla, quase sempre, um enfrentamento político-corporativo entre os sindicatos e o titular da pasta. Lembremos as famosas colocações dos professores, e tantos outros episódios que distorcem a realidade das coisas: o Ministério da Educação e o sistema de ensino não existem em função dos professores mas sim em função das crianças que há que educar e formar. Os professores não são necessários porque há um ministério, mas sim porque novas gerações têm direito a ser educadas. E nada mais errado que imaginar pretextos para absorver estes professores, como sugere o sindicato, acrescentando mais tarefas que só aparentemente introduziriam melhorias significativas. Acaso esses professores não têm estado lá? Se o sistema educativo português não tem a qualidade desejada, tal não se deve ao número de professores, nem mesmo à taxa de natalidade, mas sim a um conjunto de erros acumulados, geralmente reconhecidos, mas de difícil eliminação.Este macrossistema, sem crianças, sem resultados que nos honrem, sem procura, tem de ser, urgentemente, posto em causa como condição de poder ser salvo. Repensado por si mesmo e não na óptica do empregador ou dos sindicatos, mais dirigido ao combate à iliteracia dos alunos do que ao combate ao desemprego dos professores. Ora sendo a anunciada retracção do sistema uma tendência, o que faziam, então, os treze mil professores que estavam no activo, no ano passado, e estão hoje no desemprego? Esta simples pergunta sugere que a política de contratações do Ministério da Educação, nos últimos anos, não se terá baseado em critérios de elementar bom senso...Compreende-se a frustração de todos os que tendo investido na própria formação, se viram afastados de poder exercer o seu magistério. Um país aos solavancos, políticas casuísticas e indefinição impedem a estabilidade mínima a que cada um tem direito, para poder formar as suas decisões e orientar as suas escolhas. Mas as únicas medidas futuras para evitar o desemprego dos professores, ao contrário do que pensam os sindicatos, são as que no seu conjunto constituam uma verdadeira política de incentivo à natalidade e apoio à mulher e à família. Algo que nenhum governo fez, convictamente, até hoje, não obstante o nosso evidente envelhecimento demográfico e as suas trágicas consequências no desenvolvimento do país, no crescimento económico, na sustentabilidade financeira dos sistemas sociais, etc....Um logro, mais um, o de o Estado ser um empregador inesgotável. Uma expectativa criada por Sócrates quando, em campanha eleitoral, anunciou que iria multiplicar os postos de trabalho. A economia, o mercado, oxalá que sim! Mas o Governo, nas actuais circunstâncias, sabe que não tem outra opção que não seja a de contribuir para o aumento do desemprego. E, por mais que nos custe, tal poderá constituir um verdadeiro desígnio. É que, para além de não termos crianças, também não temos dinheiro. Por este andar, nem haverá renovação geracional nessa tão ingrata categoria de contribuinte. Aquele que paga o imposto que paga o salário do professor. É triste mas é assim.
Gostava eu que a notícia fosse a abertura do ano escolar sem incidentes e com mais crianças, alegremente, a caminho da escola! Mas não é assim. Em Portugal nascem cada vez menos crianças, a taxa de natalidade é baixíssima, o envelhecimento demográfico um verdadeiro problema. Então podia ser esta a notícia: um alerta para o estado da nossa demografia. Mas também não. A notícia é a de que existem professores a mais e crianças a menos, parecendo ser mais preocupante o excedente de professores do que o deficit de crianças. Os números, sempre manipuláveis quando se quer criar um determinado efeito, variam de dez mil professores saídos nos últimos dois anos, a treze mil que estavam no activo no ano passado e hoje se encontram desempregados, mais quarenta e cinco mil que não conseguiram lugar numa escola. Confesso que não sei se devo somar ou subtrair, o certo é que muitos deixam de ter emprego e, pior, um trabalho para o qual se prepararam e no qual investiram parte da sua vida.Cada abertura do ano escolar contempla, quase sempre, um enfrentamento político-corporativo entre os sindicatos e o titular da pasta. Lembremos as famosas colocações dos professores, e tantos outros episódios que distorcem a realidade das coisas: o Ministério da Educação e o sistema de ensino não existem em função dos professores mas sim em função das crianças que há que educar e formar. Os professores não são necessários porque há um ministério, mas sim porque novas gerações têm direito a ser educadas. E nada mais errado que imaginar pretextos para absorver estes professores, como sugere o sindicato, acrescentando mais tarefas que só aparentemente introduziriam melhorias significativas. Acaso esses professores não têm estado lá? Se o sistema educativo português não tem a qualidade desejada, tal não se deve ao número de professores, nem mesmo à taxa de natalidade, mas sim a um conjunto de erros acumulados, geralmente reconhecidos, mas de difícil eliminação.Este macrossistema, sem crianças, sem resultados que nos honrem, sem procura, tem de ser, urgentemente, posto em causa como condição de poder ser salvo. Repensado por si mesmo e não na óptica do empregador ou dos sindicatos, mais dirigido ao combate à iliteracia dos alunos do que ao combate ao desemprego dos professores. Ora sendo a anunciada retracção do sistema uma tendência, o que faziam, então, os treze mil professores que estavam no activo, no ano passado, e estão hoje no desemprego? Esta simples pergunta sugere que a política de contratações do Ministério da Educação, nos últimos anos, não se terá baseado em critérios de elementar bom senso...Compreende-se a frustração de todos os que tendo investido na própria formação, se viram afastados de poder exercer o seu magistério. Um país aos solavancos, políticas casuísticas e indefinição impedem a estabilidade mínima a que cada um tem direito, para poder formar as suas decisões e orientar as suas escolhas. Mas as únicas medidas futuras para evitar o desemprego dos professores, ao contrário do que pensam os sindicatos, são as que no seu conjunto constituam uma verdadeira política de incentivo à natalidade e apoio à mulher e à família. Algo que nenhum governo fez, convictamente, até hoje, não obstante o nosso evidente envelhecimento demográfico e as suas trágicas consequências no desenvolvimento do país, no crescimento económico, na sustentabilidade financeira dos sistemas sociais, etc....Um logro, mais um, o de o Estado ser um empregador inesgotável. Uma expectativa criada por Sócrates quando, em campanha eleitoral, anunciou que iria multiplicar os postos de trabalho. A economia, o mercado, oxalá que sim! Mas o Governo, nas actuais circunstâncias, sabe que não tem outra opção que não seja a de contribuir para o aumento do desemprego. E, por mais que nos custe, tal poderá constituir um verdadeiro desígnio. É que, para além de não termos crianças, também não temos dinheiro. Por este andar, nem haverá renovação geracional nessa tão ingrata categoria de contribuinte. Aquele que paga o imposto que paga o salário do professor. É triste mas é assim.
Comentários